OPINIÃO O partido "Chega" em contexto internacional - 20 de Março de 2024

 

Creio que existem três correntes para explicar o voto no CH:
1) que a informação pública é enviesada
2) que é um voto de protesto.
3) que é um voto ideológico.


Estes três vetores parecem-me necessários mas não suficientes para a explicação.

A vaga de direita localista, e anti-globalista e que pretende "fazer a nação outra vez grande" levou algum tempo a alcançar Portugal

Em França, que costuma liderar a mudança política, a Frente de Le Pen obteve 10% dos votos desde 1985 e teve 18% em 2022
A AfD obteve 13 % na Alemanha em 2017.
O Vox obteve 15% em 2019 em Espanha ( desceu para 12,5% em 2023).

Em todos estes casos europeus, os eleitorados reagiram  às "políticas da inevitabilidade" do centro governativo preso aos "interesses do costume" .

Entre todas as oposições possíveis ao Centrão escolheram "a mais disruptiva", fazendo cair para a irrelevância outra forças tradicionais de protesto. (caso PCP em Portugal)


Após anos e anos a escutar "Não há alternativa!", uma parte da população reage pela negativa e procura a mudança por via eleitoral, castigando os partidos de centro direita ou centro esquerda, considerados incapazes de efetuar uma renovação, ( voto ideológico) ; ou que não renovaram o suficiente ( voto de protesto); ou que nem souberam transmitir alguma (pouca) renovação efetuada. ( voto devido a informação enviesada)

Esta vaga da direita localista e anti-globalista alcança Portugal, já após a devastação moral e económica da crise COVID -10 e após a guerra na Ucrânia desencadeada pelo fascismo russo, ou seja; o Chega "chega a Portugal" numa situação internacional que lhe é desfavorável pois diminui o horizonte da direita radical europeia ( ver contorsões de Le Pen e Órban). 

Desde 2020, a Europa reforçou muito a sua integração, e reforçou o princípio da sucessão democrática contra o princípio da autocracia exibido pela violência interna e externa de Putin.


Como se posiciona o Chega, perante os cinco ou seis grandes princípios políticos atuais?


a) O substrato ideológico do Chega parece ser uma Nova Direita, ou Direita alternativa com elementos personalistas mas sem componente totalitária, como existe em alguns partidos radicais europeus e em Putin, Trump, e Xi Jinping .

b) O Chega aceita o princípio da sucessão democrática e não se vislumbra nele, até agora, qualquer traço de golpismo ou de tentativas de colapso da política democrática, como por exemplo no movimentos trumpista nos EUA;

c) Muito embora a ambição inicial  pudesse ser um "Lusexit", como proposto episodicamente em vários grupos sociais portugueses preteridos e desfavorecidos pelas benesses económicas da integração europeia, o Chega deve alinhar pela integração europeia e sem cenários de apoio às tentativas divisionistas da Europa criadas pelo putinismo imperial e pelos isolacionistas MAGA.  ( Brexit, Órban, Escócia, Catalunha)

d) Novidades ou Conformismo? A moldura político cultural do Chega é de conformismo e não de novidade. Não corresponde a nenhuma vaga cultural de fundo na sociedade portuguesa. Provoca um "déjà-vu" que lhe fará perder boa parte da juventude devido à linguagem. Símbolo: convidar "Quim Barreiros" para comício de encerramento Lx.

e) Mais preocupante parece ser a vertente negacionista de uma parte dos quadros do Chega, no jogo de Verdades e Mentiras. Este jogo alimenta a difusão de ficções políticas a ameaça direitos sociais alcançados, regimes de proteção da natureza, e não ajuda a resolver os problemas complexos do Contrato Digital.

f) Na luta entre Igualdade e Oligarquia, o Chega dificilmente poderá ser "o partido de Ricardo Salgado"; terá tendência a refugiar-se na "igualdade de alguns"  contra os outros, numa aplicação do principio político de "nós, os amigos" contra "eles", que claramente já não são os "ciganos".

 

SPOILER:  Chega sabe a café, cheira a café, tem cor de café mas talvez seja descafeinado. O futuro o dirá

 

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