LIVROS

RODARI, Gianni - Cebolinha no país das mentiras , 1958

Em um país onde por ordem do soberano tudo funciona ao contrário e é proibido dizer a verdade, o Cebolinha com uma voz muito poderosa e a ajuda de amigos ​​derrota a arrogância e faz triunfar a sinceridade.
Neste livro de literatura para criança (um dos primeiros) Rodari demonstra a sua extraordinária capacidade de explorar a realidade humana com um olhar crítico e com elegância e de estilo em direção a um universo fantástico construído sobre o altruísmo, generosidade, e amizade. Com a sua voz e simpatia, convida-nos a olhar para o futuro com optimismo.

traduzido em dezenas de línguas, mas não em português, foi adotado na Rússia como um espelho da identidade e adotado em peças musicais e bailados pelo compositor Karen Khachaturian ( sobrinho de Aram, mais conhecido)

 


CLAUSEWITZ, Carl von - Da Guerra, 1832

O general prussiano Carl von Clausewitz escreveu Da guerra, o melhor, senão mesmo o único, livro de filosofia da guerra segundo o estrategista norte americano Bernard Brodie, e no qual argumenta como os meios militares devem subordinar-se a fins políticos, os comandantes aos governantes, e a guerra à paz. O confronto primordial de forças que irrompe do mais fundo da natureza humana; a probabilidade como o princípio de funcionamento da natureza em geral e o elemento racional que emerge na natureza política, são os componentes do que chama a "trindade espantosa".

Com a utilização destas polaridades – comum nessa época de Kant, Goethe, Humboldt e Hegel - Clausewitz desenvolve uma teoria e arte da guerra, e cria uma ferramenta de leitura da guerra que nunca se dirige à energias inanimadas, mas a um objeto animado que reage. A estrutura filosófica da obra é mais visível na elaborações sobre a relação entre teoria e práxis. Segundo ele, a teoria deve: (1) revelar a natureza ou essência da guerra; (2) refletir a diferença entre teoria e prática; (3) fornecer recomendações para ação militar na guerra; (4) educar e cultivar a mente dos líderes políticos e militares, bem como do exército; (5) seguir os passos da crítica kantiana.




CONRAD, Joseph - Coração das Trevas - 1902

O conto escrito em 1902 que Jorge Luís Borges considerou "o mais intenso dos relatos da imaginação humana”, ganhou fama ao ser adaptado ao cinema por Francis Ford Coppola, em Apocalypse Now (1979) no contexto da Guerra do Vietname.

O enredo é semelhante. O herói aprendeu com os chamados "bárbaros" de que modo a fachada da civilização nos enfraquece. Quando passou a desfrutar de autoridade no "coração das trevas", Kurz atinge uma sabedoria, antes vedada. Joseph Conrad mostra a verdade selvagem sob a máscara da civilização. Não é a sociedade que nos corrompe - mas sim o poder e a autoridade. Quando ele morre, as suas últimas palavras são sobre “o horror, o horror..."

Se acreditamos ser os portadores da salvação, tornamo-nos o apocalipse para os outros. Quem se recusa a viver no tempo do fim, impõe às outras civilizações um fim violento. Joseph Conrad e Francis Coppola têm razão: devemos dizer Apocalypse now porque os europeus em África e os norte-americanos no Vietname julgavam trazer a salvação. 


IBSEN, Hendrik, Peer Gynt, 1867

Peer Gynt, o herói da peça de 1867 de Henrik Ibsen, obcecado por encontrar a identidade, resume assim a estratégia de vida: "Tentei fazer o tempo parar...dançando!" O que mais temia era ficar preso "em uma identidade" para o resto da vida. “Não haver uma via de saída ... É uma situação da qual nunca desistirei ”. Porquê? Porque “sabe-se lá o que aí vem". O que parece  confortável e digno, uma vez dobrada a esquina, pode tornar-se feio, impróprio e vil. 

Para escapar dessa eventualidade , Peer decidiu-se pelo  "ataque preventivo": "A arte total de correr riscos, / de ter a força mental de agir, / é isto: preservar a liberdade de escolha "," saber que haverá mais dias "," saber que atrás de ti, há sempre uma ponte, uma fuga" Para triunfar, Peer Gynt resolveu "cortar os laços que o ligavam a cada lugar, casa e amigos / perder os bens terrenos / dizer adeus aos prazeres  do amor". Até mesmo ser imperador de um reino é arriscado, e tem muitas obrigações e restrições.

Gynt apenas desejava ser o "Imperador de si mesmo". Andou por muitas paragens, até com trolls. Assim continuou  até se interrogar no final da vida, intrigado, triste e confuso ”.Onde tens andado desde o nosso último encontro? Onde estava eu, como aquele que deveria ter sido, uno e verdadeiro, com a marca de Deus na minha fronte?" Apenas Solveig, o grande amor da juventude que permaneceu fiel quando Peer decidiu tornar-se o Imperador de si mesmo lhe poderia responder ...Onde estiveste? "Na minha fé, na minha esperança e no meu amor." Era já tarde demais para Peer Gynt responder..... a peça acabou.

S. João Clímaco - A Escada Celestial

Um dos dos grandes Escritores da Igreja do Oriente.  João, chamado Clímaco, transliteração do grego klímakos, de escada (klímax). É o título da obra principal, na qual descreve a escalada da vida humana para Deus. Nasceu por volta de 575, quando Bizâncio, conheceu a maior crise da sua história com as invasões bárbaras. Sustentou a Igreja, que nesses tempos difíceis desempenhou a sua ação missionária através da rede de mosteiros.

A Escada do Céu foi um dos manuais de vida ascética mais seguido na antiga Igreja. Popular entre leigos e monges, foi traduzido para latim, siríaco, árabe, arménio, eslavo e muitas modernas. Foi escrito enquanto S. João Clímaco  era abade do mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai.

Conforme refletido no título, a vida ascética é uma escada em que cada degrau é uma virtude a ser adquirida e um vício a ser abandonado. Os trinta passos refletem a vida oculta do próprio Cristo. A obra teve influência decisiva no movimento Hesicástico, A Oração de Jesus ou A Oração do Coração. Pierre Pourrat na História da Espiritualidade Cristã considera João Clímaco "o mais importante teólogo ascético do Oriente que gozou de grande reputação e exerceu uma importante influência nos séculos futuros.

KLEIST, Heinrich von - Michael Kohlhaas - 1808

Michael Kohlhaas é um conto escrito em 1808 por Heinrich von Kleist, inspirado na história verdadeira de um comerciante que, vítima da injustiça de um senhor, poe uma província da Alemanha a ferro e fogo a exigir reparação. É a história de um homem que se opõe a toda a sociedade, prefigurando toda uma ala da literatura moderna. Franz Kafka, tinha-o como o livro favorito de toda a literatura alemã, e dizia que a leitura de Michael Kohlhaas foi a fonte de seu desejo de escrever.

O personagem de Kohlhaas sempre me fascinou, pela sua dignidade, e seu brilho. Nós lemos Michael Kohlhaas como seguimos uma bola de fogo. Lembro-me, durante a minha primeira leitura, de ficar particularmente impressionado com aquele momento incrível quando, à beira de derrubar o país, Kohlhaas dissolve o seu exército e volta para casa. Concorda em voltar a ser um homem comum porque, de repente, conseguiu o que queria desde o início: o direito de que a sua reclamação fosse examinada por um tribunal. 

LATOUR , Bruno - Jamais Fomos Modernos - 1991

 Jamais fomos modernos: Ensaio de antropologia simétrica (São Paulo: Editora 34, 2019). Um clássico de  Bruno Latour, um dos mais prestigiados pensadores franceses e vencedor do Holberg Prize em 2013, considerado o Nobel das ciências humanas para os estudos de ciência, tecnologia e sociedade, 

Jamais Fomos Modernos (1991) desenvolve-se a partir de conceitos da sociologia e filosofia francesas das década de 1980 e 1990. e que se podem classificar de modernidade reflexiva. O que o Ocidente acreditou que o tornava moderno, isto é, a diferença  pura entre natureza e cultura é permeado por mediações e realizações reveladoras de um duplo vínculo entre o mundo vivo da sociedade e o da natureza .

Latour como que polemiza em duas frentes: contra o realismo - "nada na ciência é construído"  - e contra o relativismo - "tudo na ciência é socialmente construído", e apresenta uma terceira posição - construtivismo mitigado que afirma que os chamados objetos da natureza são externos, objetivos e verdadeiros porque são socialmente construídos.  O seu objeto é a análise e produção de relações, como nas obras de Michel Callon, e na obra de Shapin e Schaffer sobre Hobes e Boyle 

1989 foi o ano do bicentenário da Revolução Francesa, e o cenário dos debates sobre o fim da História, sobre queda do Muro de Berlim, que indica o fim da alternativa ao capitalismo. Para Latour, a vitória do capitalismo não é necessariamente a vitória da liberdade: a extração de valor começa a despontar no momento em que desponta o desastre climáticoTemos assim, na análise de Latour, a confluência de um legado de revolução, da impossibilidade de revolução e de uma contradição sobre a natureza do futuro.

LENNOX, John - A ciência consegue enterrar Deus?

“No princípio era o bit .” Hans Christian von Baeyer
“No princípio era o Verbo.” João, apóstolo cristão

https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Lennox

A questão central neste livro é esta: que cosmovisão se coaduna com a ciência — teísmo ou ateísmo?  Os novos fundamentalistas do séc. XXI são propagam o ateísmo com cânones, dogmas, líderes, normas de conduta e proselitismo. Lennox quer refutar os argumentos falaciosos com que os ateístas tentam esconder o fervor e a parcialidade que nutrem contra as religiões, em especial a cristã. Expõe como Richard Dawkins e outros falham ao rejeitar o que mais alardeiam: o debate racional sobre espiritualidade, e temas como os limites da ciência, biologia natural e biosfera, design intencional e a teoria da evolução.

BAUMAN, Zygmunt - Ética Pós-Moderna (1ª. ed 1993)

À primeira vista, pós-modernismo significa a emancipação de padrões morais, liberta do dever e sem moral da responsabilidade nem generosidade. Como antídoto aos que se contentam em buscar o que está na moda, Zygmunt Bauman apresenta um poderoso e persuasivo estudo da ética pós-moderna. Para ele, os grandes temas da ética nada perderam da sua força: precisam ser revistos e tratados de modo inteiramente novo. A nossa época pode representar uma alvorada da ética.
No cerne do estudo, está a sua visão da pós-modernidade como
modernidade sem ilusões - emancipada da falsa consciência, das aspirações irreais e dos objetivos irrealizáveis. A nossa nova época é um "reencantamento" do mundo, devolvendo dignidade às emoções e legitimidade ao inexplicável. Sem as prisões da modernidade, podemos talvez confrontar a capacidade ética humana sem ilusões. Tudo isso não torna a vida mais fácil, mas, pode-se ao menos sonhar em torná-la um pouco mais ética.


ABREU, José Luís Pio- Como tornar-se Doente Mental

Livro aconselhado para quem acha que não tem possibilidade de se tornar doente mental! Se tiver coragem pegue neste guia que o levará à insanidade e comece por tornar-se fóbico, 30 páginas à frente respire e prepare-se para se tornar paranoico. Antes de continuar acalme-se porque não está a ser seguido e depois disso terá dicas para se tornar obsessivo-compulsivo e já agora leia rápido os outros capítulos porque o mundo está mesmo contra si! Depois de aprender como pode ser esquizofrénico... está mesmo pronto para aprender o mais importante e com um toque de magia (re)aprende a não ser doente mental. Agora ainda mais a sério: Este não é um livro humorístico mas sim uma obra essencial para conhecer os sintomas de várias doenças psiquiátricas.

A preocupação do autor é tornar os mecanismos psicopatológicos básicos envolvidos nos transtornos mentais mais facilmente compreendidos. As variantes que apresenta são precedidas pelos critérios DSMIV da American Psychiatric Association ( “metas a serem alcançadas”). Cada desordem é apresentada como uma “carreira” que pode levar a uma identificação. Se o leitor se identificar com a descrição, ele pode descobrir mais sobre si mesmo  como um paciente mental.

O autor, José Luís Pio Abreu, (1944- )  foi Professor Catedrático de Psiquiatria e Teorias da Comunicação na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e psiquiatra no Hospital Universitário de Coimbra.

SARAIVA, António José - Fábrica de Marranos - 

This title argues that the Portuguese Inquisition's stated intention of extirpating heresies and purifying Portuguese Catholicism was a monumental hoax; the true purpose of the Holy Office was the fabrication rather than the destruction of "Judaizers". The caste or "race" of the New Christians was in reality synonymous with the Portuguese mercantile middle class which conservative Portuguese society would not tolerate. Most or nearly all of the New Christian Inquisitorial victims (some 40,000 between 1540 and 1765) were unremarkable Catholics who often had minimal Jewish ancestry. The Portuguese Inquisitorial procedure was not designed to distinguish between guilt and innocence, but considered any defendant, once categorized a New Christian, a Judaizer.

 

The Marrano Factory: The Portuguese Inquisition and Its New Christians 1536-1765

BAUMAN, Zygmunt - Modernidade Líquida, (1º ed. 2000)

Na década de 1990, Bauman publicou um conjunto de livros sobre  relação entre modernidade, burocracia, racionalidade e exclusão social. Considerou a modernidade europeia como um contrato em que a sociedade concordava em desistir de alguma liberdade em troca de mais segurança individual. A modernidade, no que chamou a forma "sólida", implica ausência de incógnitas e incertezas.; implica controle sobre a natureza, burocracia, regras e regulamentos, controle e categorização - procurando remover as inseguranças pessoais, e fazendo de conta que os aspetos caóticos da vida pareçam ordenados e familiares. Essa ordem nunca consegue alcançar os resultados desejados.

Com Modernidade Líquida, Bauman começou a explorar a pós-modernidade e o consumismo.  Na segunda metade do século XX., passa-se de uma sociedade de produtores para uma sociedade de consumidores. Com essa mudança, a segurança foi abandonada em troca de mais liberdade para comprar, consumir e aproveitar a vida. Em seus livros da década de 1990, Bauman escreveu sobre isso como sendo uma mudança da "modernidade" para a "pós-modernidade".

A obra tenta evitar a confusão em torno do termo "pós-modernidade", usando as metáforas de modernidade "líquida" e "sólida". O consumismo moderno provoca  as mesmas incertezas que a modernidade "sólida"; mas os medos são mais difusos e difíceis de definir. São "medos líquidos", amorfos e sem referência facilmente identificável.


ELIADE, Mircea - A noite de S. João - 1958

Mircea Eliade evoca, com realismo inesquecível, e com humor e ironia, o drama do Leste Europeu, condenado, diante da indiferença do Ocidente, a ser objeto, e nunca sujeito, da história.

A Noite de São João, título do romance mais importante de Mircea Eliade, corresponde, no original romeno, a Noaptea de Sânziene, "a noite das fadas", celebrada a 23 de junho (solstício de verão), data à qual tradicionalmente se atribui um caráter profético personagem, capaz de prever a sorte ou azar que o destino trará durante o ano. Sob a magia deste mistério, na espera desta revelação, desenvolve-se a rede heterogénea de paisagens físicas e humanas deste romance, que percorre, num período de 12 anos, um ciclo perfeito, fechado e comparável aos ciclos cósmicos.

O centro mágico da obra é Bucareste, cidade repleta de símbolos iniciáticos e fonte inesgotável de mitos, onde, na floresta de Baneasa, os protagonistas, Stefan e Ileana, se encontram. Neste contexto projeta-se o ambiente, o estado de espírito da juventude intelectual romena do período entreguerras, a tensão colectiva que conduziu à ditadura da Guarda de Ferro, à Guerra Mundial, à entrada dos russos e à tomada do poder. pelos comunistas com a consequente repressão e exílio. A atitude perante a inexorabilidade da História e do Tempo, eixo do tecido narrativo, revela aqui todo o seu significado simbólico para o ser humano, marcando a vida e as relações afetivas das personagens do romance, imersas num turbilhão que evoca, com inesquecível realismo, mas sem falta de humor e ironia, o drama do Leste Europeu, condenado, diante da indiferença do Ocidente, a ser objeto, e nunca sujeito, da história.


WAGNER, Andreas - Arrival of the fittest - 2014

Uma síntese atualizado da evolução segundo Darwin. O mantra é a construção ao longo de milhões de anos de imensas  ‘Bibliotecas’ de opções genéticas em cada espécie. Até recentemente, essas bibliotecas eram erroneamente chamadas de 'ADN lixo'. Na realidade, as espécies podem usar essa biblioteca para experimentar muitos genes existentes que codificam em proteínas promissoras. Construir novos genes e as proteínas a partir do zero levaria muito mais tempo. Wagner considera que as inovações na evolução - a chegada dos mais aptos - dependem dessa biblioteca, um tesouro que deve ser protegido contra a destruição pela seleção natural, mesmo que a maioria dos ‘livros’ dessa biblioteca possam ser ‘inferiores’ em comparação com os ‘livros’ de rivais superiores.

ALERTA - Desde 2012 os método de "edição do genoma" ou sistema CRISPR / Cas9 (Repetições palindrómicas curtas intercaladas regularmente agrupadas ) que permite cortar e modificar o ADN em locais específicos, nomeadamente genes causadores de doenças. A comunidade científica ficou entusiasmada com o potencial do CRISP em saúde pública, conservação de ecossistemas, agricultura e pesquisa básica.

Além dos alertas sobre militarização, comercialização e segurança alimentar, existem grandes dúvidas quanto à aplicação deste método à edição do genoma humano. Se esta metodologia se generalizasse, seria de temer uma redução da diversidade genética, reduzindo o tamanho da "biblioteca" de Wagner.


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