PERGUNTAS - QUE VIDA APÓS O VÍRUS?


SAÚDE

P1 –SOLIDARIEDADE

Que testemunho dar sobre a crise da COVID -19, a pensar na experiência pessoal e familiar, e tendo presente a situação das famílias portuguesas?

P2 - COMO COMEÇOU?

Passaram mais de seis meses desde a origem da COVID -19 em Wuhan. Como avaliar a origem desta calamidade que assinala o fim da era neoliberal?

P3 - VÍRUS E VIDA

A informação com o teor científico sobre o coronavírus é abundante: quais os mínimos que devemos saber sobre o vírus e a evolução da actual pandemia?


P4 - MORTE

Estima-se que, em finais junho de 2020, a COVID -19 terá provocado 500.000 mortos: os números reais ultrapassam os números oficiais. Que ecos tem esta acumulação da morte em sociedades que, de certo modo, a tinham varrido do seu horizonte?

P5 – RESILIÊNCIA

Estima-se que 4,5 biliões de pessoas - mais de metade da população mundial - viveu a quarentena. A nossa fragilidade, física e mental, como pessoas e sociedades, ficou exposta. Admite-se uma segunda vaga. Como pensar estas ameaças e a experiência da doença?


PESSOAL / FAMILIAR

P6 - PERCEÇÃO DO IMAGINÁRIO

As palavras passam, a letras ficam. Desde sempre que a a literatura antecipou e transmitiu a experiência humana perante a doenças e as epidemias. Que percepções ocorrem nesta área?

P7 DISCERNIMENTO

Perante a COVID-19 com graves consequências sociais e económicas, será que só “vamos mudar algo para que tudo fique na mesma” ou saberemos extrair lições para uma sociedade mais humanizada?


P8 –INTERNET

A imersão na internet - redes sociais, aplicativos, teleconferências - tornou-se corrente no ambiente de escolas, famílias e grupos. Estas tendências reforçam a comunhão ou não?

P9 – ESTILOS DE VIDA

O necessário confinamento transformou a crise de saúde em crise económica e esta trará mudanças de estilos de vida. Que novas motivações de saúde física e espiritual se virão acrescentar aos objetivos de ”fitness” dos atuais estilos de vida?

P10 HUMOR VIRAL

Poderíamos viver sem humor? Poderíamos, mas não era a mesma coisa. A busca da verdade vive a par da capacidade de autocrítica revelada no humor. Podemos brincar com a COVID-19? Como apreciar a força do cómico em tempos trágicos?

P11 AMOR EM TEMPOS DIFÍCEIS

O significado do amor entre casais mudou de há muito, de relacionamento estável para um caos normal. Permanecerá o ideal do amor romântico - "quando os sentimentos acabam, a relação deve acabar"- ou namoro e o casamento adquirirão novos sentidos e sensibilidade?


SOCIEDADE

P12 – SOCIEDADE LÍQUIDA Vivemos numa sociedade líquida, com falta de laços firmes. Até os espaços familiares se tornam perigosos quando falham esses laços. O novo normal, após a COVID-19, trará agravamento ou diminuição desta situação? 

P13 -  EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
Acelerou a era de aprendizagem e escola on-line, com ensino à distância. Debate-se muito as vantagens das aulas virtuais em comparação com as aulas presenciais. Como aprecia esta tendência? O que veio para ficar

P14 - DIREITOS HUMANOS

Considera que o respeito pelos direitos humanos cresceu ou decresceu no que se refere a confinados em lares, prisões, sem abrigo, e refugiados?

P15- DESIGUALDADES  SOCIAIS

“Estamos todos na mesma tempestade, mas não no mesmo barco”. A pandemia veio expor desigualdades sociais profundas. Considera que se vão agravar ou vê uma oportunidade para as corrigir?

 

P16 – CONCERTAÇÃO SOCIAL

Ninguém sabe o que nos espera desta vez. Mas é por isso mesmo, porque o futuro é tão incerto, que precisamos conversar.

CIÊNCIA, CULTURA

& INFORMAÇÃO 

P17 - TESTEMUNHOS DA COMUNIDADE CIENTÍFICA

Perante o flagelo da pandemia, que notas breves podemos dar sobre a reação da comunidade científica e tecnológica em Portugal??

P18 - IMAGEM DA COMUNIDADE CIENTÍFICA

Como apreciar a atividade científica que, enquanto decorre a pandemia, soube investigar com circunspeção e comunicar resultados com prudência?


P19 - CULTURA

Estamos a repensar o fundamental na vida. Que ídolos e feitiços culturais foram postos em causa com a crise? Qual o futuro dos espectáculos ? Como irão reagir as artes performativas, e que papel poderá ter o mecenato?

 

P20 - OS MEDIA

Os canais de televisão reprogramaram-se para acompanhar a crise. Estiveram à altura? Que balanço faz da cobertura jornalística em Portugal? Que evolução prever neste setor?


NOVA ECONOMIA

P21 – RESSURGIMENTO ECONÓMICO

Após a crise sanitária  vem uma violenta crise económica. Até que ponto, o aproveitamento das potencialidades e vantagens competitivas de Portugal, poderão impulsionar uma dinamização?

P22 ECONOMISTAS DA SUSTENTABILIDADE

A economia mundial entrou em recessão. As decisões políticas urgem. A consciência interroga-se sobre o capitalismo que temos. Existem economistas à altura da crise?

P23 ECONOMIA CIRCULAR

Reduzir, reciclar e reutilizar, são os passos mais importantes numa sociedade de consumo. A crise proporcionará o caminho para uma sociedade menos consumista ou vai agravá-la?


P24 - PACTO ECOLÒGICO EUROPEU

A COViD-19 É como um botão fast-forward da história que acelerou a exigência  de uma reindustrialização focada no ambiente sustentável. Como alcançar a prosperidade sem venerar o totem do crescimento e o tabu dos mercados financeiros?

P25 - TELETRABALHO

Trabalho, serviços e consultas à distância instalaram-se com a crise COVID-19, devido ao confinamento, culminando a revolução digital em curso há mais de trinta anos. Em dois meses avançou-se mais que em dez anos. Em que grau se irão manter estas tendências?

P26 - ECONOMIA AZUL

A nova economia do Mar integra pesca e aquicultura; transportes marítimos, portos, construção naval e reparação; turismo e náutica de recreio; a investigação científica, energias renováveis, biotecnologia marinha  a mineração em águas profundas; a defesa e segurança das áreas marítimas. Como encarar este futuro?


P27 TURISMO VIVO

As estatísticas do turismo durante a pandemia apontam para um colapso . Que perspetivas se rasgam neste setor, nomeadamente para Portugal?

P28 - SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA

Os bancos tradicionais criam 90 a 95% da massa monetária. exigindo-se cada vez mais que forneçam produtos e serviços que atendam ao impacto ambiental e social. A crise COVID-19 permitirá reforçar esta exigência?


GOVERNAÇÃO / GLOBALIZAÇÃO

P29 PODER DIGITAL 

Num mundo cada vez mais conectado à Internet e de interacção crescente de pessoas, coisas e eventos, que caminhos se preveem para a Administração Pública? Como repensar o Estado pós-Covid-19, e qual a importância da transformação digital centrada no cidadão?

 

 

P30 - LIDERANÇAS OCIDENTAIS

. Os governantes do mundo ocidental reagiram de modo desigual à calamidade e mostraram capacidades de decisão muito diferentes. Que exemplos, positivos e negativos, destacar?



P31 - UNIÃO EUROPEIA

A UE está determinada a combater a destruição económica criada pelo vírus. As medidas que estão a ser tomadas conduzirão a uma Europa mais integrada ou não após esta grande crise?

P32 - A CHINA ATUAL

A República Popular da China tornou-se a fábrica do mundo, desde que participa da globalização económica, emulando o mundo Ocidental e convivendo com ambas as tradições. Como avaliar estas tendências e como poderão evoluir?

P33 - GEOESTRATÉGIA

A Como avaliar o impacto geoestratégico da covid-19 no relacionamento entre as grandes potências mundiais?


ESPIRITUALIDADE


P34 - HOMO DEUS - HOMO REUS

Na atitude perante o vírus, notou-se uma grande libertação de fantasmas do passado. e raramente se ouviu “é castigo de deus”. Mas, afinal, onde fica Deus nesta pandemia? Mas, afinal, há culpados ou não?

P35 - PAPA FRANCISCO

Chegou o momento de refletir sobre a reforma, indicada pelo Papa Francisco: sem retorno a um mundo que já não existe e, sem confiar em reformas exteriores, mas indo ao centro do Evangelho. Onde procurar a novidade do Cristianismo, num mundo que mudou?

P36 - DIÁLOGO INTERRELIGIOSO

Na sociedade global, o diálogo inter-religioso entre opiniões diferentes e a pertença a religiões diferentes, pode trazer caminhos comuns de humanidade. Como pode a dimensão religiosa responder aos desafios pós COVID-19 ?

 

P37 - CRENTES E IGREJA

Durante a quarentena houve o encerramento dos templos religiosos e redescobriu-se o papel de cada crente em família. Como aprecia esta situação e como considera que a Igreja respondeu à calamidade

P38 - IGREJA E CRENTES

Durante a quarentena houve o encerramento dos templos religiosos e redescobriu-se o papel de cada crente em família. Como aprecia esta situação e como considera que a Igreja respondeu à calamidade

P39 FERMENTO CULTURAL

 - É corrente a informação de que enquanto não atingirmos a imunidade de grupo, não estaremos a salvo da pandemia.  E será que podemos falar de uma  imunidade cultural e espiritual que nos ajude a escolher rumos?

P40 DEPOIS DA PANDEMIA

Ao longo dos últimos meses vimos, as igrejas vazias, a restrição das festas litúrgicas, tendo-se até omitido a celebração pública e comunitária da Páscoa. Anunciarão os templos despovoados uma nova fase do cristianismo no continente europeu?


Ao Leitor

O vírus chegou. E agora: que vida teremos após o vírus? Que testemunhos, expectativas e esperanças queremos passar sobre o novo normal que teremos de construir?

A pandemia da COVID-19 já mudou em Portugal e no mundo. E, embora governantes, especialistas e cada um de nós não coincidamos sobre qual a melhor forma de enfrentar a doença e mitigar o impacto económico, está à vista que teremos de criar um "novo normal", uma reviravolta nas nossas vidas que se estenderá, pelo menos até existir imunidade de grupo, eventualmente haver uma vacina e, provavelmente, muito para além disso. A violência veio ter connosco e é sempre a violência que propicia mudanças históricas. Como lhe responderemos?

Acreditamos que esse novo normal vai depender de muitos fatores, vai ter muitas modalidades, vai implantar-se diferentemente conforme a região e o país onde vivemos. Sabemos que a luta contra a COVID-19 e futuras pandemias continuará em muitas frentes, hospitais, escolas, igrejas, empresas, serviços públicos, comércios. E acreditamos, sobretudo, que dependerá das decisões que a sociedade civil indicar e que os governos democráticos deverão refletir, se quiserem ser representativos.

Os epidemiologistas indicam que o coronavírus poderá atingir o país em mais uma vaga. As taxas de infeção deverão dissipar-se ao longo dos meses de verão, para, provavelmente, aumentarem de novo no outono. Ninguém sabe quando nem onde ocorrerão novos surtos e picos, pelo que o governo tem de estar preparado para reforçar, de um dia para o outro, as medidas de distanciamento físico, conforme as ameaças.

Entretanto, a crise de saúde que vivemos transformou-se em crise económica. O fecho de serviços, o lockout nas empresas, o desemprego, fez disparar uma fatura e uma recessão económica que irá pesar tanto ou mais quanto as preocupações com a saúde pública. E como ninguém pode ficar indefinidamente confinado em casa, o governo terá de equilibrar o desejo natural de socializar com amigos e familiares com os esforços de distanciamento físico e outras medidas para diminuir a taxa de infeção.

Vimos, como a 30 de abril, o governo emitiu o Plano de Desconfinamento calendarizando a reabertura de espaços como restaurantes, escolas e igrejas, lojas de comércio, serviços públicos, e zonas de lazer, configurando um primeiro novo normal. Essas orientações vêm reorganizar no imediato a vida social e responder à violência causada pela COVID-19. Porque é de violência histórica que estamos a falar.

É uma violência que levou a morte a mais de 1300 famílias em Portugal e ainda não acabou. É uma violência moral que nos deixa as marcas das provações em situação de stress. É uma violência económica cujos contornos ainda mal começam a ser medidos: a caminho de 700 mil desempregados, perto de 100 mil empresas em falência, perdas estimadas em até 7%, 8% ou 9% do PIB anual de 2020; com tudo isto, crescimento das desigualdades sociais, aumento da dívida pública, queda futura do turismo, das exportações, e grandes incertezas sobre o contexto europeu e mundial

Se olharmos para o mundo em redor o panorama é ainda mais grave. Mais de 350 mil mortos nos seis continentes e a crescer. Ameaças da segunda vaga de COVID 19 para o Outono e Inverno de 2020.  Destruição de emprego na ordem das centenas de milhões. Destruição de riqueza. Crescimento das desigualdades. E um horizonte mundial incerto, de grandes tensões entre as duas geopotências, os EUA e a China, onde o peso do dinheiro e das armas conta quase tudo e a força dos valores da consciência e do direito, quase nada.

Neste panorama que é nosso, local, português, e ao mesmo tempo, global, abre-se um mundo de questões pessoais, sociais, económicas, geopolíticas, culturais e espirituais que merecem ser respondidas. Que iremos fazer da presente tragédia e calamidade? Vamos aceitá-la como fatalidade ou suscitar, na resistência a ela, uma epifania e uma intimação à mudança? Vamos resignar-nos ao que vier, porque somos, sociedade portuguesa, pequena e insignificante, ou vamos fazer a nossa parte, precisamente porque, apesar de pequenos, podemos construir sentido à nossa medida, num país que tem tudo para dar certo se mudarmos de paradigma?

Qual paradigma, podemos começar por perguntar aos essenciais que estiveram na linha da frente. Aí trabalharam médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, a cuidar dos doentes, como sempre fizeram, com grande louvor do serviço nacional de saúde. São os primeiros heróis desta luta que vence o vírus. A eles acrescentemos todos os que trabalham na produção, processamento e distribuição de alimentos, motoristas, funcionários de recolha de lixo e farmácias, polícias, bombeiros e militares que garantem a segurança. E temos presente os pensionistas e idosos, muitos os confinados em lares, grupo de risco da COVID 19; e, finalmente, os sem abrigo, os prisioneiros, os refugiados em lugares que são focos da epidemia e onde o distanciamento social é quase impossível.

Estamos perante uma crise complexa, e sistémica que precisa ser dissecada de vários ângulos. Com as limitações do novo normal, os especialistas em educação apontam que o fecho da escola significa que crianças de famílias pobres ficam atrás dos colegas ricos; os juristas interrogam-se se são legítimas e constitucionais as restrições às liberdades básicas; os especialistas de ética enfatizam que impedir a disseminação do coronavírus depende muito mais de o público seguir normas morais do que da coerção do estado. E é preciso vigiar se os governos não acumularam demasiado poder durante a pandemia.

E tem mais.  A reconstrução económica que urge precisa de um novo acordo social, a new social deal. A urbanização e a betonização acelerada, o desmatamento por mão do homem e dos incêndios esmagaram a vida selvagem, tornando mais provável a transmissão de doenças de animais para humanos. O vírus da COVID-19 não é o único que anda por aí à nossa espera. Precisamos de um new green deal.

Temos de alertar que são os governantes eleitos, e não os cientistas, que devem tomar as decisões difíceis sobre o fim do bloqueio na saúde e seus efeitos colaterais. As primeiras perguntas são para os especialistas de vírus e epidemias; mas, à medida que precisamos de respostas, temos de interrogar economistas, historiadores, juristas, cientistas sociais e filósofos.

A tradição nacional de debate estruturado, muito distinto do choque de opiniões, não é particularmente forte. Mais um razão para este nosso papel de colocar não só as perguntas fáceis como também as perguntas difíceis que, de outra forma, poderiam ficar esquecidas. Apesar de tudo, a filosofia tem uma experiência bastante boa de 2.500 anos a colocar perguntas