GIL VICENTE, cristão livre, obra aberta.
Explore o mundo de Gil Vicente. Como investigador em Lisboa, posso ajudar a divulgar as suas obras sobre Gil Vicente e promover a sua expansão e desenvolvimento de parcerias internacionais.

1. Visitação
Uma centena de versos. Terça-feira, 7 de Junho de 1502, na câmara da rainha D Maria que deu à luz, na véspera, o príncipe futuro D. João III e onde está presente toda a corte. Um vaqueiro irrompe na sala, deslumbrado ante as maravilhas de tal lugar. Apresenta os cumprimentos ao recém-nascido e à família real e anuncia a entrada de trinta companheiros, «porqueiriços e vaqueiros», que trazem oferendas de leite, ovos. É esse o rito da «visitação».
IMAGEM:
https://museu.rtp.pt/coleccao-tv-radio/conteudos-televisao/347/monologo-do-vaqueiro?page=63

2.Auto Pastoril Castelhano
Uma écloga de Natal e mais ainda. Os pastores velam na noite, tagarelando, e depois adormecem. Um anjo desperta-os e anuncia-lhes o nascimento do Messias. Dirigem-se para o Presépio, apresentam as suas oferendas ao recém-nascido, cantam e dançam; e, a terminar, evocam as profecias relativas à Virgem e a Cristo. Pastores, Gado, Profetas, Salomão e a Virgem, a Cabana Real, o Conselho e Aldeia, Mesta de Pastores de Espanha, outras leituras se possibilitam.
Pardiez que es para notar,
Pues el Rey de los señores
Se sirve de los pastores:
Nueva cosa
Es esta y tan espantosa.
Pastores: GIL, BRÁS, LUCAS, SILVESTRE, GREGÓRIO, MATEUS
Entra um pastor inclinado à vida contemplativa, e anda
sempre solitário. Entra outro, que o repreende disso. E porque a obra em si dali por diante vai mui declarada, não serve mais argumento

3. Reis Magos
O terceira dos autos iniciais foi concebido para a festa da Epifania, que se celebra em 6 de Janeiro. Pastores dirigem-se a Belém para visitar o Menino que acaba de nascer. Perdem-se no caminho e encontram um eremita e um cavaleiro da escolta dos Reis Magos. Os reis chegam
e a breve representação termina com um vilancete cantado diante do Presépio.
IMAGEM: A população da aldeia de Figueira, em Penafiel representa todos os anos o Auto dos Reis Magos.

4. S. Martinho
Este auto ou "milagre" foi representado nas Caldas da Rainha em 1504 pela festa do Corpus Christi. É o único exemplo de «vida de Santo» legado por Gil Vicente. A peça, escrita em castelhano, põe em cena o episódio em que Martinho dá a um pobre a metade da sua capa. É o Inverno feito Verão.
Não sei que te dê, nem o que te consola
Nem a teus males posso remediar...
Mas posso este manto ao meio repartir,
Pois não trago aqui mais nenhuma esmola.
A Virgem de Misericórdia aparece com uma capa em bandeiras da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Azeitão, Elvas e Arouca. Assim a rainha D. Leonor retoma o gesto de São Martinho para a vida social.
Didascália de 1562: O auto que adiante se segue foi representado à mui caridosa e devota senhora a rainha Dona Leonor na igreja das Caldas, na procissão de Corpus Christi, sobre a caridade que o bem aventurado São Martinho fez ao pobre quando partiu a capa.
IMAGEM: Representação a 12 e 13 de Maio de 2017 | Largo da Copa, Caldas da Rainha
Dramaturgia e montagem de textos | Isabel Lopes
Encenação | Fernando Mora Ramos

5. Quatro Tempos
Um auto de Natal, quase contínuo de monólogos e de recitativos. Um serafim, acompanhado por um arcanjo e dois anjos, vem visitar o Presépio. Chegam a seguir as quatro estações. O Inverno é um pastor com linguagem «saiaguesa» e que caminha ao frio. O Verão (hoje a Primavera) é um jovem que traz flores. O Estio (a que no Antropoceno se chama Verão) treme com febres. O Outono é mais insignificante. Entra Júpiter a anunciar o fim das antigas divindades e as quatro estações juntam-se-lhe para apresentar a Jesus recém-nascido, o universo inteiro: astros do céu, montanhas e florestas, os quatro rios do Paraíso, as geadas do Inverno, a vida fervilhante da
natureza primaveril. A terminar, o rei David na figura de um pastor e oferece a Jesus o sacrifício do seu «espiritu atribulado» e do seu «coraçón contrito».
.
Didascália de 1562: Esta obra se chama dos Quatro Tempos: foi representada ao mui nobre e próspero Rei D. Manuel na cidade de Lisboa, nos paços de Alcáçova, na capela de São Miguel, por mandado da sobredita Senhora sua irmã, nas matinas do Natal
FIGURAS: Verão, Inverno, Estio, Outono, Júpiter, um Serafim, Dous Anjos, e um Arcanjo.
IMAGEM: Frontispício do Auto dos Quatro Tempos. Gravura
presente na Copilaçam de Todalas Obras de Gil
Vicente (...) Vam Emmendadas Polo Sancto Officio,
edição de 1586. Biblioteca Nacional de Portugal.

6. Quem tem farelos?
Ordonho e Aparício, dois criados, se encontram na rua. Um deles trabalha para um escudeiro, Aires Rosado, sem dinheiro mas metido a galante. O escudeiro faz uma serenata à namorada. Cães, gatos e galos fazem barulho. A mãe da moça, a Velha, entra fazendo uma longa imprecação, maldizendo quem a faz levantar-se no meio da noite. Vai-se o Escudeiro cantando. A Velha fica ralhando com a filha, Isabel. Quer que a filha trabalhe mas esta só quer saber de se enfeitar. Saem.
Começam as obras do quarto livro, em que se contém as farsas.
DIDASCÁLIA: Este nome da farsa seguinte, Quem tem farelos?, pôs-lho o vulgo. É o seu argumento que um escudeiro mancebo per nome Aires Rosado tangia viola e a esta causa, ainda que sua moradia era muito fraca, continuadamente era namorado. Trata-se aqui de uns amores seus per cinco figuras: Ordoño, Apariço, Aires Rosado, Isabel e ũa Velha sua mãe. Foi representada na mui nobre e sempre leal cidade de Lixboa ao muito excelente e nobre rei dom Manoel primeiro deste nome, nos paços da Ribeira. Era do Senhor de 1505 anos.
Ficha Artística
15 de Agosto de 1986 | Hospital Termal das Caldas da Rainha
Encenação | José Carlos Faria
Cenografia, Figurinos | José Carlos Faria
Direcção Musical | Joaquim António Silva
Coreografia | José Correia
Máscaras | Rogério Guimarães
Iluminação | José Eduardo e António Plácido
Guarda – Roupa | Conceição Marques, Natália Ferreira, São Cardoso e Arminda Constantino
Fotografia | Joaquim António Silva
Interpretes | António Plácido, José Mora Ramos, José Carlos Faria, Isabel Muñoz Cardoso, Isabel Leitão e Joaquim António Silva
https://teatrodarainha.pt/eventos/quem-tem-farelos-de-gil-vicente/

7. Alma
Santo Agostinho esclarece que, assim como os peregrinos descansam em estalagens, a Alma tem uma pousada para repouso durante sua jornada na vida: a Santa Madre Igreja. Entram um Anjo e a Alma. O Anjo está ali para orientá-la na jornada. Ao afastar-se o Anjo, o Diabo tenta a Alma com prazeres. Volta o Anjo e encoraja a Alma a resistir. O Diabo veste-a com riquezas e jóias. É a luta da Alma. Diz que está cansada e o Anjo a leva à estalagem. A Igreja a acolhe. Dois Diabos lamentam por almas perdidas. A Igreja pede aos seus quatro Doutores, Agostinho, Ambrósio, Jerônimo e Tomás, para apresentar à Alma os símbolos sagrados e explicar os seus significados. Os símbolos são chamados de iguarias sobre a mesa de refeição. São eles: açoites, a coroa de espinhos, os pregos e o crucifixo. Em louvor, entoam um Te Deum.
DIDASCÁLIA: Este auto presente foi feito à muito devota rainha dona Lianor e representado ao muito poderoso e nobre rei dom Emanuel seu irmão, por seu mandado, na cidade de Lisboa, nos paços da Ribeira, em a noite de Endoenças. Era do Senhor de 1508
ATUALIDADE : Teatro da Comuna.
LOCAL:Tomar – Festa dos Tabuleiros- Convento de Cristo-Claustro D. João III Estreia: 1 a 5 Julho;
Versão Cénica e Encenação:João Mota

8. Fama (1510)
Didascália de 1562: A farsa seguinte foi representada à mui católica e sereníssima rainha dona Lianor, e depois ao muito alto e poderoso rei dom Manoel, na cidade de Lisboa em Santos-o-Velho, na era do Senhor de 1510
Resumo:
Uma guardadora de patos é a Fama e tem como ajudante o Parvo, Joane. Seus pretendentes francês, italiano e castelhano. Cada um quer levar a Fama para seu país. Mas ela sabe que pertence a Portugal, pelos grandes feitos portugueses. Faz uma descrição do poderio lusitano, enumerando terras descobertas e povos subjugados. Chegam a Fé e a Fortaleza, coroam-na com louros a Fama e colocam-na num carro triunfal ao som de música.
IMAGEM: O Centro de Teatro da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto (CTCMCB) apresentou FAMA a 17 de outubro, de 2015, em Pinhel no Cineteatro São Luís. Como protagonistas desta narrativa estarão em ‘palco’ Armando Luís, Francisca Magalhães, Neto Portela e Roberto Moreira. A cenografia deste espetáculo está a cargo de Joana Veloso e Mário Teixeira. A direção técnica é de Joana Veloso.

9. Fé
Foi em 1510, que o nosso autor deu um passo decisivo na elaboração do teatro religioso. O Auto da Fé é também uma peça de Natal.
A representação decorreu na capela do palácio de
Almeirim. O rei e toda a corte assistem às matinas (na
noite de 24 de Dezembro, antes da missa da meia-noite).
Dois pastores, idênticos aos de Juan de Encina, manifestam um deslumbramento cómico ante coisas tão belas. Entra em cena a personagem alegórica da Fé, que lhes explica a Festa do Natal. Leva-os ante o Presépio e tudo termina em canções. A Fé fala em português ― uma novidade relativamente às éclogas salmantinas. O recurso à alegoria aproxima-a das «moralidades» então comuns no teatro europeu, sobretudo em França.
DIDASCÁLIA: A seguinte representação foi representada em Almeirim, ao mui poderoso rei Dom Manuel. Cuja invenção é que, estando nas matinas do Natal, entram dois pastores simples na Capela, e estando maravilhados no Pontifical de todas aquelas coisas, entra a Fé, que lhe declara a significação delas.
Figuras: Fé, Brás, Benito e Silvestre.
Noite de Teatro da E.N.
25 de Dez. 1967
https://www.youtube.com/watch?v=k0xHKEnNw4E
Realização radiofónica: Castela Esteves. Direcção de ensaio e produção: Raul de Carvalho. Locução: D. João da Câmara (pai do fadista Vicente da Câmara). Captação/registo de som: Lenel da Silva. Interpretação: Amélia Rey Colaço, Eunice Muñoz, Mariana Rey Monteiro, Carmen Dolores, Lourdes Norberto, Hortense Luz, Alina Vaz, Maria José, Teresa Mota, José Gamboa, Rui de Carvalho, Paulo Renato, Pedro Lemos, Alves da Costa, Luís Filipe, Barreto Poeira, Varela Silva, Armando Cortez e Raul de Carvalho.

10. SIBILA CASSANDRA (1511)
Uma das obras -primas do teatro europeu, como tem vindo a ser reconhecido desde os anos 1960. Neste verdadeiro "sonho de uma manhã de Natal", Gil Vicente exalta a mulher e o seu destino na figura da sibila Cassandra que recusa casar-se porque profetizou ser virgem e Mãe de deus.
I. Cassandra é cortejada pelo pastor Salomão mas não quer se casar. Fala sobre o lado desagradável do casamento: as mulheres são cativas, os homens são ciumentos ou conquistadores; um purgatório.
II. Salomão traz três camponesas sibilinas, Eritreia, Ciméria e Pérsica, tias da moça, para que a convençam.
III. A seguir vêm os tios Esaias, Moyses e Abraão. Moisés apresenta a lição moral que o casamento é sacramento; as sibilas apresentam as profecias sobre a Virgem. Cassandra diz que também profetizou que o Salvador nascerá de uma virgem e ela presume ser essa virgem.
IV. Abrem-se cortinas e surge o Presépio. Anjos cantam uma cantiga de embalar. Cada um dos presentes dirige-se ao menino e à Virgem, em adoração. Cassandra pele perdão a Maria. Cantam um hino à Virgem e um finalmente um hino bélico.
DIDASCÁLIA: A obra seguinte foi representada à dita senhora (rainha D. Leonor) no mosteiro d’Enxobregas nas matinas do Natal. Trata-se nela da presunção da Sebila Cassandra, que, como per spírito profético soubesse o mistério da Encarnação, presumiu que ela era a virgem de quem o senhor havia de nascer. E com esta opinião nunca quis casar. A qual Cassandra entra em figura de pastora:
Figuras:
Cassandra ( Casandra), sibila e pastora
Salomão ( Salamão), pastor
Ciméria (Cimerya), sibila, tia e lavradora
Pérsica (Peresica), idem
Eritreia (Eruthea), idem
Abraão ( Abraham), profeta, tio e lavrador
Moisés ( Moysem), idem
Isaías ( Esaias), idem
Quatro anjos, cantores

11. Fadas (1511)
Braamcamp Freire, 1511 e I. S. Révah, 1527
Uma feiticeira protesta contra as leis que a impedem de realizar a sua arte. E protesta junto do Rei, o que só o teatro permite. A sua tese é que todo o seu trabalho visa o bem-estar dos maltratados e sofridos de amor. Ela, mais do que uma casamenteira é uma criadora de estados amorosos por via mágica. E que há melhor que o amor? Portanto é uma benfeitora. Será que o Rei se convence? Para provar o que diz monta o seu laboratório em cena, o alguidar e faz um catálogo de seus feitiOS.
O diabo que surge fala picardo e vem contrariado pois a feiticeira exerce poder sobre ele e manda-o fazer coisas como a um moço de recados. A sua revolta é latente e bem se vê que estava melhor junto das chamas infernais. A mando da feiticeira traz, por engano, dois frades, um dos quais toca gaita e o outro mulherengo, profere um sermão burlesco sobre o tema «Amor vincit omnia». O frade é vaidoso, só quando o deixam botar sermão se cala de protestos. No sermão pode ver-se ao espelho, no meio de tanto latim e metáfora. A feiticeira pede ao diabo que não se engane e que desta vez traga três fadas. Estas chegam e distribuem as cartas para um jogo de sortes. A partir daí é o teatro da corte que se joga.
As Fadas Marinhas, ou Sereias, acabam por chegar. E a farsa converte-se em divertimento de salão. As Sereias misturam-se com a assistência e organizam jogos. Há distribuição de papelinhos com a definição de um animal, trinta e seis para os cavalheiros e vinte e três para as damas.
FOTO: Isabel Lopes
26 e 27 de Março; 1 a 3 de Abril; 30 de Setembro a 2 de Outubro 2004 – Sala Estúdio do Teatro da Rainha
Encenação | Fernando Mora Ramos
Cenografia e Figurinos | José Carlos Faria
Desenho de luz | António Plácido
Colaboração musical | Filipe Rebelo
Interpretação | Isabel Lopes, José Carlos Faria e Victor Santos
FICHA ARTÍSTICA
Encenação de Maria do Céu Guerra - a barraca
Teatro Cinearte, 31 de Dezembro 2002
FICHA ARTÍSTICA
As turmas inventam : https://www.youtube.com/watch?v=K2qUFx6szO0

12. Físicos (1511)
Realização António Augusto Barros
2020
A Escola da Noite
A Escola da Noite é uma companhia de teatro profissional sediada em Coimbra desde 1992.

25. Juiz da Beira (1525)
Pero Marques, o marido de Inês Pereira, é juiz. Houve mexericos sobre seu desempenho e ele é chamado para que julgue na corte, diante do rei. Para mostrar que ele rústico, o Porteiro apresenta-lhe uma cadeira, para que se sente durante o julgamento. Não sabe de que lado se sentar e exige um banquinho. Vem Ana Dias e reclama justiça, pois sua filha foi violada. O Juiz diz que são coisas de moços. Diz também que se deve verificar o trigal onde o facto aconteceu. Se as plantas estiverem muito amassadas. é sinal de que houve violência; do contrário, não. Vem um sapateiro e discute com Ana Dias. Ela alcovitou e seduziu a sua filha para o pecado, convidando-a a visitar um jovem. O Juiz dá a sentença: se fosse um convite para trabalhar, será que a moça iria? Mas manda que Ana Dias seja açoitada. Vem um Escudeiro. Apaixonou-se por uma moura e usou os serviços de Ana Dias. Gastou o que tinha e não conseguiu a moça. O Juiz absolve a alcoviteira. O mesmo escudeiro pede que o criado lhe devolva a roupa nova, já que não quer trabalhar mais para ele. O Juiz faz o julgamento, deixando o caso como está.
Vêm quatro irmãos discutir uma herança, um asno deixado pelo pai. Cada um tem uma característica principal: um é preguiçoso, um é dançarino, um é esgrimista e um é apaixonado. O Juiz quer que o asno seja citado para a próxima audiência, para que conclua o julgamento. Cantam todos e acaba-se a comédia.
TEATRO DAS BEIRAS / TMJB
28 e 29 SETEMBRO, 2024 | SALA EXPERIMENTAL
Cenografia e figurinos - Nuno Carinhas
Coprodução Centro Cultural Raiano e Teatro Municipal Joaquim Benite
Interpretação Bernardo Sarmento, Carlota Macedo, Miguel Brás, Miguel Henriques, Paulo Monteiro e Sílvia Morais

36.TRIUNFO DO INVERNO (1529)
Portugal. Diz que se acabaram as festas populares com suas danças e seus cantos e que o povo tem estado triste. A seguir, o Inverno entra, selvagem. Para mostrar sua força, apresenta um primeiro triunfo, que é cobrir de neve uma serra: “Soy portero de los vientos, pastor de las tempestades…” Vem um Pastor, imprecando contra o frio e elogiando o Verão. Há uma discussão entre ele e o Inverno e acabam trocando pragas. Outro Pastor vem e diz que não tem vestes contra o frio, porque esteve apaixonado durante o verão e gastou todo o dinheiro em flores e presentes para a namorada. Uma Velha surge a seguir: deve atravessar a serra descalça sobre a neve porque recebeu este desafio de um jovem, para que ele a aceite como namorada.
O Inverno despede aos três para mostrar seu segundo triunfo. É uma impressionante e realista tempestade no mar. Durante a tempestade, um dos marinheiros começa a rezar: “Oh Virgem da Luz Senhora! São Jorge! São Nicolau!” Mas diz o Piloto: “Acudi eramá a náu, deixai os santos agora!” Após isto, três Sereias entoam uma confortadora canção sobre a esperança. O Inverno leva as Sereias até as majestades e elas cantam um romance enaltecendo Portugal e seus reis.
O Verão expulsa o Inverno. Descreve o novo cenário: saiam as flores, cantem as aves. Chama a Serra de Sintra para que ela usufrua suas benesses. Um casal do povo reclama do calor, ele é ferreiro e ela forneira. Entra um grupo de moços e moças, trazendo aos reis os jardins perenais. Cantam em honra do Verão e da criança que nascera, Isabel filha de Dom João III e dona Catarina e que morreu nesse mesmo ano.
DIDASCÁLIA: A tragicomédia que se segue é chamada Triunfo do Inverno. Foi representada ao muito alto e excelente príncipe el rei dom João, o terceiro deste nome em Portugal, na sua cidade de Lixboa, ao parto da devotíssima e muito esclarecida rainha dona Caterina nossa senhora.
É repartida em duas partes. Figuras da primeira parte: o Autor, Inverno, Brisco, João Guijarro, Velha, Piloto, Marinheiro, quatro Grumetes: Martinho, Gregório, Gonçalo, Afonso, três Sereas.

37. Lusitânia
Um conjunto de episódios que se encaixam como "bonecas russas" unidos pelo fio condutor das nossas escolhas sobre o que é o bem e o mal.
A pequena farsa inicial faz «subir o pano» com uma tranquila família judaica de Lisboa. A comédia propriamente dita é precedida de um «argumento» que fala das origens fabulosas de Lusitânia.
Os dois diabos, Dinato e Berzabu, recitam «horas» parodiadas e com uma das cenas mais célebres do teatro mundial: o diálogo de Todo-o-Mundo e Ninguém.
Depois, surgem os dois pretendentes de Lusitânia, um deles o ridículo deus Mercúrio, acompanhado de deusas vindas do Oriente, que representaria a vocação comercial da nação; e o outro, o jovem e fogoso príncipe caçador Portugal, experiente nas coisas do amor e da terra.
IMAGEM : 22/11/2011
Auto da Lusitânia (Gil Vicente, 1531), Video realizado para o EAD da ULBRA - Criação e Direção: Carmen Costa / Fotografia: Humberto Rocha/ MotionDesign: Eduardo Vieira/ Edição e sonorização...

40. Cananeia
DESTAQUE: À mulher Cananeia, nada é oferecido, senão o estigma de ser estrangeira - “Confesso que sou cadela/ e de cadela nasci/ e sou mais perra que ela”: Cananeia 586-588).
Três pastoras representam as três leis: Silvestra, a Natureza, , pastoreia os gentios. Hebreia, a lei da Escritura, pastoreia os judeus; Veredina, a lei da graça, é pastora dos cristãos. Esta anuncia que o Messias já nasceu e está a pregar. Satanaz reclama por não ter conseguido tentar o Cristo. e Belzebu lhe diz que atormenta a filha da Cananéia. Vem Cristo com seis apóstolos que lhe pedem que ensine a rezar. "Só com alma inflamada" o pai-nosso,
A Cananeia pede para curar a filha, possessa: “Tem os seus braços torcidos, os olhos encarniçados, os cabelos desgrenhados, seus membros amortecidos. Dá gritos, faz alaridos, e o socorro está em ti”. Cristo recusa: “Meu padre me fez pastor do gado da sua vontade, das ovelhas de Jacob que procedem de Abraão”. Os apóstolos intercedem. Segue-se a passagem bíblica dos que se alimentam das migalhas do banquete. A fé salva-a. A filha é curada. Os demónios atormentam-se.
IMAGEM: 8 de dezembro de 2022, o Grupo de Teatro Anzol Castiço apresentou o «Auto da Cananeia» no mesmo Mosteiro de Odivelas, onde Violante Cabral, Abadessa do Mosteiro a encomendou a GV e foi representado em 1534.
https://www.cm-odivelas.pt/autarquia/noticias/noticia/auto-da-cananeia-em-cena-no-mosteiro-de-odivelas

Breve Sumário
Desde o vilancete de Abel pastor até à "voz que clama no deserto”, passando pelas provações de Job e profecias de Isaías, Gil Vicente conta "a maior história de todos os tempos", também povoada por demónios e anjos e as alegorias do Mundo, do Tempo e da Morte. O Breve Sumário da História de Deus é um auto sobre a condição de criaturas cuja desesperada humanidade se redime na esperança.
IMAGEM : Teatro D. Maria II, em janeiro de 2010 com encenação de Nuno Carinhas,

42. Ressurreição
Após o "Breve Sumário", embebido de textos bíblicos e marcado por solenidade intemporal realçada pelos versos em «arte maior», o "Diálogo sobre a Ressurreição" a intenção de demarcar uma questão de fé. Apresentam-se nela três rabinos, descritos como Judeus portugueses, a conversar sobre uma série de provérbios populares, aprendidos com as suas linhagens em Portugal e a falar dos seus negócios. Quando dois centuriões encarregados de guardar o túmulo de Cristo lhes anunciam que o corpo de Cristo desapareceu e assim Jesus ressuscitou, não acreditam. Acreditar no Messias é a verdade que é preciso debater
Autos e peças de Gil Vicente
1502, terça-feira, 7 de Junho, no dia seguinte ao nascimento do príncipe D. João, futuro D. João III: Monólogo do Vaqueiro;
1502 em 24 de Dezembro, véspera de Natal: Auto Pastoril Castelhano;
1503, a 6 de Janeiro, Dia de Reis: Auto dos Reis Magos;
1504, pela festa do Corpo de Deus, nas Caldas: Auto de São Martinho;
1506, terça-feira «Gorda», 3 de Março, em Abrantes: Sermão à Rainha Lianor;
1508 Alma
1509: Quem tem Farelos?;
1509: Índia;
1510, 24 de Dezembro, véspera de Natal, em Almeirim: Auto da Fé;
1512: O Velho da Horta;
1513, 24 de Dezembro, véspera de Natal: Auto da Sibila Cassandra;
1514 Exortação da Guerra;
1517: Barca do Inferno;
1518, 1 de Abril, Quinta-feira Santa: Auto da Alma;
1518, 24 de Dezembro, véspera de Natal: Barca do Purgatório;
1519, 22 de Abril, Sexta-feira Santa: Barca da Glória;
1521: Comédia de Rubena;
1521, domingo, 4 de Agosto, na partida da infanta Dona Beatriz para a Sabóia: Cortes de Júpiter;
1522: Pranto de Maria Parda;
1522 (?): Dom Duardos;
1523, em Tomar: Farsa de Inês Pereira;
1523, 24 de Dezembro, véspera de Natal, em Évora: Auto em Pastoril Português;
1523 (?)-1524 (?): Amadis de Gaula;
1524, em Évora, pelas festas dos esponsais de D. João III com Dona Catarina, celebrados em Tordesilhas a 10 de Agosto: Frágua de Amor;
1525 (?)-1526 (?): O Juiz da Beira;
1526, Janeiro, em Almeirim, na partida de Dona Isabel, que ia juntar-se a seu marido, Carlos V: Templo de Apolo;
1527, fim de Janeiro, na entrada solene em Lisboa de D. João III e da rainha Dona Catarina: Nau de Amores;
1527, em Coimbra: Comédia sobre a Divisa da Cidade de Coimbra;
1527, durante o Verão, em Coimbra: Farsa dos Almocreves;
1527, em Coimbra, para celebrar o nascimento, a 15 de Outubro, de infanta Dona Maria: Serra da Estrela;
1526 (?)-1527 (?)-1528 (?): Breve Sumário da História de Deus;
1526 (?)-1527 (?)-1528 (?): Diálogo sobre a Ressurreição;
1526 (?)-1527 (?)-1528 (?), em 24 de Dezembro, véspera de Natal: Auto da Feira;
1529, começo de Maio, pelo nascimento em 28 de Abril da infanta Dona Isabel: Triunfo do Inverno;
1529 (?)-1530 (?): O Clérigo da Beira;
1532, pelo nascimento a 11 de Julho do príncipe D. Manuel (representado de novo em 1533): Auto da Lusitânia;
1533, em Évora, pelo nascimento em 25 de Maio do infante D. Filipe: Romagem de Agravados;
1534, no mosteiro de Odivelas, pela Quaresma: Auto da Cananeia;
1536, em Évora: Floresta de Enganos.
Datação difícil
Auto dos Quatro Tempos, representado no Natal, do final do reinado de D.
Manuel I (1521);
Comédia do Viúvo: data desconhecida, mas provavelmente antes do final do reinado de D. Manuel I (1521);
Auto da Festa: representado numa casa particular em data desconhecida mas posterior a Templo de Apolo (1526);
Farsa das Ciganas: data desconhecida, em Évora;
Auto das Fadas: data desconhecida;
Auto da Fama: data desconhecida;
Auto dos Físicos: data desconhecida;
Auto de Mofina Mendes: representado pelo Natal em data desconhecida (
1515? e 1534 ?).

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